E a Nota Fiscal de Serviço (NFS-e), como fica com a reforma tributária?
A Nota Fiscal de Serviço eletrônica (NFS-e) é um dos pontos mais sensíveis da reforma, porque envolve municípios, ambiente nacional e novos tributos (IBS/CBS) ao mesmo tempo. No papel, o cenário é um. Na prática, para quem desenvolve software e tenta testar, é outro bem diferente.
A Nota Fiscal de Serviço eletrônica (NFS-e) é um dos pontos mais sensíveis da reforma, porque envolve municípios, ambiente nacional e novos tributos (IBS/CBS) ao mesmo tempo.
No papel, o cenário é um. Na prática, para quem desenvolve software e tenta testar, é outro bem diferente.
O que a lei e o governo dizem “no papel”
A reforma tributária e a Lei Complementar nº 214/2025 determinaram que:
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Os municípios devem se alinhar ao padrão nacional da NFS-e e integrar suas notas ao Ambiente de Dados Nacional (ADN), usado pelo Comitê Gestor do IBS.
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A Receita Federal divulgou que, a partir de 1º de janeiro de 2026, a NFS-e padrão nacional passa a ser a referência para emissão e integração, com campos específicos para IBS e CBS no layout.
Tecnicamente, o Comitê Gestor da NFS-e já publicou notas técnicas e novos leiautes (RN_RTC_IBSCBS), incluindo grupos de totalização de IBS e CBS para serviços. A versão mais recente é a Nota Técnica nº 005/2025 e a atualização do Anexo VI – leiaute da NFS-e adaptado ao IBS/CBS, divulgada agora em novembro de 2025. (Link: nt-005-se-cgnfse-novo-layout-rtc.pdf)
O problema: municípios atrasados e ambiente nacional incompleto
Quando olhamos para a implementação real, o cenário é bem mais lento:
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Relatórios recentes mostram muitos municípios apenas conveniados, mas uma parcela bem menor efetivamente em produção no padrão nacional. Há materiais apontando, por exemplo, algo como mais de 70% dos municípios conveniados, mas apenas cerca de 9% já emitindo NFS-e nacional em produção.
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Guias de entidades estaduais e municipais reforçam que a adesão ao padrão nacional é “obrigatória e imprescindível”, mas admitem que essa integração ainda está em curso e depende de ajustes técnicos e decisões de cada prefeitura.
Do nosso lado, como desenvolvedores de software, nosso ponto de vista é:
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Muitos municípios ainda não atualizaram seus webservices para o layout nacional com IBS/CBS.
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Em vários casos, o município mantém o layout antigo (padrão próprio ou ABRASF) e faz uma conversão interna para o layout nacional, enviando ao repositório nacional “por trás dos panos”. Link de um padrão seguindo esta linha: elotech.com.br
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Fornecedores de software que atendem prefeituras relatam abertamente que o Ambiente Nacional ainda não está apto a receber IBS/CBS, e por isso não conseguem disponibilizar ambiente de testes com IBS/CBS nem nota técnica fechada de integração nessa parte.
Isso explica exatamente a sensação que nós, desenvolvedores, estamos tendo:
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Você lê as notas técnicas, vê os XSDs, mas quando tenta colocar na prática, ou o município não aceita, ou não tem ambiente, ou ainda não sabe como vai tratar os novos campos.
O que isso significa, na prática, para quem emite NFS-e em 2026?
Para as empresas (usuários finais) e para os times de TI, o cenário mais provável para o início de 2026 é:
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NFS-e continua existindo normalmente, com ISS sendo calculado como hoje. A arrecadação do ISS não muda de cara – o que entra é o espelho de informações para IBS/CBS no ambiente nacional.
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O padrão nacional da NFS-e vai ganhando espaço, mas muitos municípios ainda vão estar em fase de adoção, parametrização e integração.
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Em vários locais, será possível emitir NFS-e sem ainda preencher completamente os campos de IBS/CBS, especialmente nos primeiros meses, enquanto os ambientes de teste e produção não estiverem 100% alinhados.
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A parte de apuração efetiva de IBS/CBS a partir das NFS-e deve começar em modo “assistido”, com muita revisão e ajustes, assim como está sendo feito com NF-e/NFC-e.
O que você, empresa, pode fazer agora?
Mesmo com toda essa instabilidade do lado técnico, algumas ações já fazem diferença:
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Conferir se o seu município já aderiu à NFS-e Nacional (há um painel público de monitoramento de adesões no portal oficial, no link: Serviços e Informações do Brasi)
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Conversar com o seu contador para entender:
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se o município já está em convênio;
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se haverá mudança no emissor de NFS-e;
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como será tratada a transição em 2026.
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Ter em mente que 2026 é um ano de transição e teste, não de perfeição: ajustes, instabilidade e mudanças de rota farão parte do processo.